Diário da uma banana

de Jeff Kinney

Descobri este livro na Wook e já está na minha lista de compras. Pareceu-me que, para além de divertido, oferece potencialidades didácticas.

Ciociara

de Alberto Moravia

Imagine que um dia o carteiro lhe deixa na caixa do correio um livro que lá em casa ninguém pediu. Quem terá enviado o livro? Para quem? Qual a intenção? Estas e outras questões circularam na minha cabeça, quando um dia, em vésperas de um exame do equivalente ao 11º Ano, recebi das mãos dessa figura amiga, que na minha memória haveria de ser lembrada como a personificação do Pai Natal, um livro das edições de bolso da Europa-América.

Por razões que nunca soube bem explicar, mais místicas do que políticas, senti que o livro me era dirigido, ainda que a matéria de exame me aguardasse no caderno de apontamentos.

Acocorada num canto das escadas que me permitiam imaginar paisagens de sonho, enquanto não devorei o livro não fiquei satisfeita, sentindo-me nos caminhos de um desígnio por desvendar, muito superior ao chamamento do caderno de apontamentos de Introdução à Política e aos avisos esclarecidos de um irmão mais velho. Já se vê que tinha mais vocação para sonhar do que para decretar. Devorei página a página aquele livro que me desvendou as atrocidades de que os homens são capazes, em nome do poder sobre o outro e do prazer da carne.

Ciociara de Alberto Moravia, um livro sobre a 2ª guerra mundial (nenhuma guerra merece letra maiúscula e esta muito menos), durante a ocupação em Itália.

Balanço 2

Pintura de Martins Barata

Este blog surgiu de um contrato de leitura com alunos e enraiza num plano de intenções: promover hábitos de leitura e reflectir sobre como promover a leitura num mundo avesso à intimidade e ao silêncio dos livros.

Ler é um acto íntimo, muito embora a competência de leitura se desenvolva com estímulos exteriores: meios familiares ricos em objectos culturais, contacto com o universo dos livros em actividades de bibliotecas, partilha de leituras, contacto dinâmico e criativo com textos em sala de aula, momentos de leitura e de escrita, interacção leitura escrita e tantas outras actividades que deixam em nós o bichinho da leitura.

Entrar no mundo dos livros e falar de livros foi o grande objectivo deste projecto. Muitas das leituras realizadas pelos alunos não ficaram aqui registadas. No entanto, em sala de aula, os alunos apresentaram leituras e contagiaram colegas.

Neste blog há vários exemplos de alunos que se deixaram contagiar, em momentos de partilha de leituras.

Para mim, foi uma verdadeira aprendizagem. Tive a certeza de que posso influenciar não um nem dois mas muitos alunos, através de contextos que promovam a leitura.

Algumas leituras talvez não sejam propriamente as mais ortodoxas. A leitura dos clássicos deve ser a grande finalidade, na promoção de leituras. Todavia, defendo que há um caminho a percorrer até chegarmos aos clássicos. Alguns destes alunos começaram com Nicholas Sparks e já lêem J.L.Peixoto, Saramago, Isabel Allende e Inês Pedrosa. O caminho da leitura é um caminho idiossincrático, evolutivo e cumulativo. Motivo porque neste contrato os alunos deveriam apresentar três livros por período, à sua escolha, com a condição de que quem lesse apenas um seria valorizado. No final deste ano lectivo, todos os alunos leram pelo menos um livro. Muitos alunos leram dois a três livros e alguns alunos leram bem mais.

E o que me deu mais prazer foi que, chegados ao final do 3º ciclo do Ensino Básico, todos estes alunos compreenderam e se apropriaram da importância de ler, o que é um indicador de que a leitura para muitos deles, no futuro, será sem dúvida uma fonte de prazer e de conhecimentos.

Histórias da Terra e do Mar

de Sophia de Mello Breyner Andresen

Um dos mais belos livros de Sophia, Histórias da Terra e do Mar que inclui vários contos, entre os quais "Saga", "A Casa do Mar" e "O Silêncio", onde as palavras nos transportam pelos caminhos da poesia e nos contam histórias da terra e do mar.

As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."

Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro sexto