Há leituras que deixam em nós a felicidade pura de um dia de sol...
Outras, deixam-nos agarrados aos pensamentos, como se cada palavra transportasse uma luz e uma sombra que nos deixa a pensar nas entrelinhas...
Neste quadro de Picasso, uma mulher lê, num ambiente de penumbra, onde um candeeiro reflecte a luz sobre as páginas do livro. A sombra em que está mergulhada a cabeça da mulher parece indiciar que a leitura é uma actividade cerebral, que absorve o pensamento.
Das páginas do livro saiem saberes cheios de luz, que entusiasmam a actividade de pensar, a actividade do planeta a mais humana e que nos distingue dos animais.
Este quadro de Picasso pôs-me ainda a pensar sobre a cor do pensamento. O pensamento terá cor? Dizem que o saber é da cor da luz. Muito sinceramente, tenho dúvidas. Se assim fosse, vinha um dia de sol e ficávamos a saber tudo.
Nunca vi a cor do pensamento, mas se o tivesse de representar, seria mesmo cinzento. Porquê? Porque pensar incomoda como andar à chuva, lá dizia um heterónimo de Fernando Pessoa, e quem anda à chuva molha-se, ao experimentar tudo o que um dia de sol não mostra e que se esconde na noite dos pensamentos...