10 de julho de 2009

Ciociara

de Alberto Moravia

Imagine que um dia o carteiro lhe deixa na caixa do correio um livro que lá em casa ninguém pediu. Quem terá enviado o livro? Para quem? Qual a intenção? Estas e outras questões circularam na minha cabeça, quando um dia, em vésperas de um exame do equivalente ao 11º Ano, recebi das mãos dessa figura amiga, que na minha memória haveria de ser lembrada como a personificação do Pai Natal, um livro das edições de bolso da Europa-América.
Por razões que nunca soube bem explicar, mais místicas do que políticas, senti que o livro me era dirigido, ainda que a matéria de exame me aguardasse no caderno de apontamentos.
Acocorada num canto das escadas que me permitiam imaginar paisagens de sonho, enquanto não devorei o livro não fiquei satisfeita, sentindo-me nos caminhos de um desígnio por desvendar, muito superior ao chamamento do caderno de apontamentos de Introdução à Política e aos avisos esclarecidos de um irmão mais velho. Já se vê que tinha mais vocação para sonhar do que para decretar. Devorei página a página aquele livro que me desvendou as atrocidades de que os homens são capazes, em nome do poder sobre o outro e do prazer da carne.
Ciociara de Alberto Moravia, um livro sobre a 2ª guerra mundial (nenhuma guerra merece letra maiúscula e esta muito menos), durante a ocupação em Itália.

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